Alguns pensam que a felicidade é a ausência de sofrimento... mas, na verdade, está errada essa ideia. A felicidade e o sofrimento são ambos pilares fundamentais da existência. Sem sofrimento a nossa humanidade não seria provada e os nossos dias não teriam valor. Assim também a felicidade, sendo a alegria mais profunda, é o que dá sentido a todas as noites... não são realidades que se possam medir, mas não deixam de ser algo tão concreto como as nossas duas mãos, que sempre trabalham em conjunto, sabendo cada uma o seu papel e o seu valor.
Evitar a dor não nos torna mais fortes.
Tememos as perdas. Tememos a morte. Talvez porque o nada é um abismo que assusta todos quantos têm uma vida com valor. Porque somos impelidos a defender o significado do que erguemos aqui. Não se quer aceitar que tudo quanto se construiu, durante uma vida, seja suprimido sem deixar rasto. Quantas vezes não é o momento do fim que se teme, mas antes o que se pode fazer até lá?
Caminhar rumo ao desconhecido é uma prova de coragem e de fé diante das evidências deste mundo. Os olhos não querem ver nem as pernas caminhar, mas o caminho faz-se pela ousadia de acreditar e esperar ainda mais, ainda melhor.
Também há quem tema o fim por não saber lidar com momentos de balanço sérios às suas decisões e gestos, à forma como conduz a sua vida, àquilo que, afinal, escolheu ser... apesar de tudo. Nestas alturas de julgar as obras, neste tempo de verdade, há edificações interiores que se revelam... fragilidades e podridões que se manifestam, e que tememos que sejam... determinantes.
Há quem julgue que a profundidade da vida é coisa de histórias infantis... e oriente a sua existência rumo à superficialidade do ter: ao dinheiro, poder, títulos, casas, carros, festas, prazeres imediatos... Anulam-se. Desprezam-se, desprezando os outros, ignoram a possibilidade concreta de serem felizes, lá desde o fundo do seu bom coração de criança.
No final, o que importa mesmo é que tenhamos tido a força de fazer chegar aos outros o sorriso único que cada um traz no fundo de si... A essência. A alma. O amor. Quem não se ensinou a si próprio a viver assim, não estará preparado para viver depois do fim...
Só podemos compreender a plenitude da nossa identidade num horizonte de eternidade, na esperança da existência de um céu muito concreto. Um céu de que este mundo faz parte. Um céu que está próximo. Que se pode tocar aqui mesmo. Que se revela em cada gesto de sofrimento... e de amor.
Há que viver a certeza da esperança de que por detrás do que vemos não existe um nada, mas algo de muito bom. Não há esperança firme na vida enquanto não se a estender ao que está para além do que podemos conhecer aqui. Se nos reduzimos ao que somos nesta vida, então não somos nada. Esta vida é demasiado breve e limitada. Talvez a terra só exista para manifestar o céu.
O mistério da vida revela-se a cada momento. A eternidade está toda aqui e agora. Morremos a cada dia, mas também amamos e, por isso, todos os dias criamos algo de novo que não morrerá nunca.
O amor é a prova absoluta da eternidade. Não pode ser destruído, muito menos num instante só. Quem ama, sabe que vive... para sempre.
José Luís Nunes Martins, in 'Amor, Silêncios e Tempestades'
É no coração que morremos. É aí que a morte habita.
Nem sempre nos damos conta que a carregamos connosco, mas, desde que somos vida, ela segue-nos de perto. Enquanto não somos tomados pela nossa, vamos assistindo e sentindo, em ritmo crescente ao longo da vida, às mortes de quem nos é querido. A morte de um amigo é como uma amputação: perdemos uma parte de nós; uma fonte de amor; alguém que dava sentido à nossa existência... porque despertava o amor em nós.
Mas não há sabedoria alguma, cultura ou religião, que não parta do princípio de que a realidade é composta por dois mundos: um, a que temos acesso direto e, outro, que não passa pelos sentidos, a ele se chega através do coração. Contudo, o visível e o invisível misturam-se de forma misteriosa, ao ponto de se confundirem e, como alguns chegam a compreender, não serem já dois mundos, mas um só.
Só as pessoas que amamos morrem. Só a sua morte é absoluta separação. Os estranhos, com vidas com as quais não nos cruzamos, não morrem, porque, para nós, de facto, não chegam sequer a ser.
Só as pessoas que amamos não morrem. O Amor é mais forte do que a morte. O sofrimento que se sente é a prova de uma união que subsiste, agora com uma outra forma, composta apenas de... Amor. Dói, muito. Mas com a ajuda dos que partem acabamos por sentir que, afinal, não fomos separados para sempre...
O Amor faz com que a nossa vida continue a ter sentido. A partida dos que foram antes de nós ensina-nos a viver melhor, de forma mais séria, mais profunda, de uma forma, inequivocamente, mais autêntica.
Devemos cuidar de todos os que amamos. Aos que partiram, porém, aquilo que lhes podemos dar é o amor àqueles que ficaram cá. Porque estes continuam a precisar de nós, do melhor de nós... e é sempre uma iniquidade quando um amor por quem partiu mata, em alguém, o amor por aqueles que ainda cá estão.
A morte ensina-nos que o Amor é perdoar mais do que vingar; consolar mais do que ser consolado; partilhar mais do que acumular; compreender mais do que julgar; dar, darmo-nos, oferecer o melhor de nós, mais do que termos o que sonhámos.
Não é difícil compreender que os nossos sentimentos e gestos são determinantes, não só para a nossa felicidade neste mundo, como também para a da outra vida, de que esta faz parte. Repousa em nós, calma e firme, a certeza de que a vida não se mede pela quantidade dos dias... mas pelo amor de que se foi autor e herói.
... chorar a morte de um amigo é a prova de que a sua vida, aqui, teve valor e sentido. É o mesmo amor que nos deu alegria à vida que nos faz, agora, chorar... não desapareceu, está vivo. Habita-nos o coração.
Ficam as lágrimas choradas no silêncio do fundo de nós. Fica o silêncio onde se ama.
Fica a esperança, que é certeza, de que todo o carinho e ternura que ficaram por dar não se perderam... adiaram-se apenas.
Afinal, a mesma morte que leva os que amamos, também nos levará a nós... será pois uma simples questão de tempo até que possamos abraçar e beijar aqueles a quem, agora, disso a morte nos impede.
No fundo do nosso coração, bem mais fundo do que a morte em nós, está Deus.
A Deus peço a confiança na eternidade do Amor; a Deus peço que ajude os que neste momento sofrem a dor do espinho que a morte crava; a Deus peço que me continue a ensinar e a ajudar a Amar com todas as forças de que sou capaz. A-Deus.
José Luís Nunes Martins, in 'Filosofias - 79 Reflexões'
A morte tem tanta certeza de que te apanha, que te dá toda uma vida de avanço
La muerte está tan segura de alanzarte, que te da toda una vida de ventaja
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