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Pontos de Vista

Porque tudo na vida tem um ponto de vista

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14
Out16

O Lugar Certo - Joel Neto

olhar para o mundo

O Lugar Certo

O tempo mudava de um momento para o outro, juntando, no curto espaço de vinte e quatro horas, a Primavera e o Outono, o Verão e até Inverno. Mas José Artur sentia-se vivo como um lobo das estepes libertado. Tinha a tensão alta dos heróis românticos e, em muitas circunstâncias, dava por si a citar Thoreau:

“Fui para os bosques viver de livre vontade. Vara sugar todo o tutano da vida, para aniquilar tudo o que não era vida e para, quando morrer, não descobrir que não vivi.”

Lamentava que Darwin ou Twain não tivessem encontrado naquelas ilhas o mesmo que ele encontrava agora, mas percebeu que, no século dezanove, ainda restavam outros paraísos no planeta. E, de qualquer modo, havia Chateaubriand, Raul Brandão, até Melville, impressionado com a valentia dos marinheiros das ilhas a leste de Nantucket. Não, ele não estava louco. Havia uma sabedoria naquilo — havia ecos e refracções, como se algo de mais profundo se insinuasse. Tinha a certeza de que, se a terra tremesse agora, conseguiria senti-la.

Aquele era o seu lugar. Não havia por que sentir falta dos privilégios da cidade. Um homem que soubesse povoar-se tinha alimento para uma vida na fotografia de um labandeira, com a sua cauda saltitante, perscrutando o solo em busca de alimento. E quem não fosse capaz de sustentar-se disso podia sempre recorrer às tascas e às tabernas, às sociedades filarmónicas e às fanfarras, ao Carnaval, às touradas e aos Bodos e a todas as demais folias com que agora lhe parecia possível aplacar até a mais inabalável solidão.

Joel Neto, in 'Arquipélago'
(Excerto sobre os Açores)
 
retirado de Citador
24
Jul15

Joel Neto - As Ilhas e as Flores

olhar para o mundo

 

As Ilhas e as Flores

Percorreu um trilho ao longo da manhã e sentou-se a comer entre as azáleas. Quando um dia voltasse a partir, talvez nada lhe fizesse tanta falta como as flores. As hortênsias e as árvores-de-fogo, as beladonas e as camélias, as magnólias e as olaias: encantava-o a cadência a que floriam naquela ilha — e depois ainda havia os hibiscos, os jarros e os mantos infinitos de erva azeda, sempre prontos a acorrer a algum sobressalto da meteorologia, para que nunca faltasse a cor.

Podia dizer-se o que se quisesse sobre as ilhas, menos que fossem claustrofóbicas. Não as ilhas onde houvesse flores.

Joel Neto, in 'Arquipélago'
(Excerto sobre os Açores)
 
Retirado de Citador

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