Eu não me importo se você é negro, branco, hetero, bissexual, gay, lésbica, baixo, alto, gordo, magro, rico ou pobre. Se você for gentil comigo, eu serei gentil com você. Simples assim
O português que marcou o golo que fez Portugal vencedor do Euro 2016 esteve anteontem no Jornal da Noite da SIC. Explicou porque é que, mal marcou, correu à desfilada, afastando os camaradas que queriam submergi-lo no triunfo, até se afundar nos braços de um dos técnicos, junto ao banco. Queria ir, disse, festejar com quem estava ali, no lugar onde tinha passado grande parte do campeonato - o de suplente.
Era uma das minhas curiosidades desde domingo - como o porquê que, saiba eu, Quaresma ainda não disse sobre ter agarrado assim na cabeça do francês, mais o de ser aquela música dos Xutos o talismã da seleção. São perguntas fáceis. Há outras muito mais difíceis. A primeira é a que me surge ao ver na TV este Éder tão negro herói de um país onde todos os dias os negros, claros ou escuros, ouvem "vai para a tua terra"; um país que nas TV e jornais e em todos os lugares de representação - à exceção dos de atleta - devolve aos portugueses negros a evidência de uma cegueira.
Colour blind é a expressão usada em inglês para a feliz capacidade de ver pessoas, não a sua cor. A nossa capacidade como país é oposta: não vemos a invisibilidade dos portugueses negros. Tão cegos somos que, quando Van Dunem tomou posse, houve quem tivesse considerado "racista" o júbilo e a comoção dos que sublinharam ser a primeira vez que temos alguém negro no governo. Oh, é contraditório, dirão, querer afirmar a igualdade sublinhando a diferença. Mas não houve nenhuma luta pela igualdade que não tenha passado por aí. Nenhuma que não faça a pergunta que nesta semana vi num vídeo de uma palestra nos EUA, na qual uma mulher (branca) pergunta a uma plateia branca quantas daquelas pessoas gostariam de ser tratadas como os negros. Os assistentes entreolham-se, embaraçados. E ela conclui: "Ninguém? Quer dizer que sabem que há uma diferença de tratamento e que não a querem para vocês. Mas admitem-na para os outros."
No mesmo dia da entrevista de Éder, o The New York Times noticiava um inquérito, efetuado após o homicídio de cinco polícias brancos em Dallas (durante uma manifestação do movimento Black Lives Matter, de protesto contra homicídios de negros por polícias), no qual 69% dos americanos admitem que as relações raciais são geralmente más e estão a ficar piores. 48 anos após a morte de Luther King, quando chega ao fim o segundo mandato do primeiro presidente negro, num país onde há juízes negros, pivôs negros, jornalistas negros, senadores negros - e décadas de discriminação positiva na administração pública -, as coisas estão assim.
Podemos olhar para isso e achar que é um problema dos EUA. Ou pensar sobre e concluir que tem de ser também um problema - um problema que nos recusamos a enfrentar, até no facto de não sabermos, por bem intencionado mas perverso impedimento constitucional, quantos portugueses negros há - neste país onde os negros são uma espécie de suplentes, no banco a ver o jogo. À espera de uma oportunidade. Até quando?
Eu passei a minha vida inteira tendo que explicar porque, sendo filho, neto, bisneto... de negros, não me interessa especular (DA MANEIRA COMO SE FAZ) sobre "condição negra", "história dos negros", "consciência negra", "dia do afro-descendente", "cota para negros", ... e Morgan Freeman, em menos de 60 segundos, disse TUDO! Acima de tudo, somos TODOS SERES HUMANOS !!!
I spent my entire life having to explain why, being the son, grandson, great grandson ... of black mans, I do not care to speculate (THE WAY HOW IS) on "conditionblack", "black history", "black consciousness", "day of african descent", "black's quote," ... and Morgan Freeman in less than 60 seconds, said EVERYTHING! Above all, we are ALL HUMANS!
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