As lágrimas venceram: eram grandes e sentidas de mais para o próprio Cristiano Ronaldo acabar com elas.
Vale mesmo a pena ver o vídeo no PÚBLICO online. Minutos depois da vitória na final do Euro 2016, Cristiano Ronaldo discursou perante toda a equipa portuguesa: “Este é o momento mais feliz da minha vida. Já chorei três ou quatro vezes. O meu irmão até já me chamou: ‘Pá, já chega, já chega’. Eu disse: ‘Hugo, não consigo’”.
A dignidade de Cristiano Ronaldo comove-me sempre. É a maneira mais nobre de calar as pessoas que o tratam como um mero marcador de golos. Mas é a determinação dele que mais admiro. Precisamente nos jogos em que não marca golos é inspirador vê-lo tentar marcar, cada vez com maior teimosia e frustração. O homem não desiste. Às vezes as bolas entram mas a maior parte das vezes não entram. Todos os grandes jogadores de futebol sabem isto. Mas Cristiano Ronaldo é capaz de ser o único que não aceita que as bolas dele não entrem sempre. Às vezes ri-se, quando quase entram, como se percebesse, com a fé dele, que Deus também gosta de brincar com as pessoas - e que tem um terrível sentido de humor.
Quando ele diz que não consegue parar de chorar é a mesma determinação que está a mostrar: “Hugo, não consigo”. O irmão provavelmente tem razão – que já chega de choro – mas é escusado estar com fitas. Cristiano Ronaldo consegue muitas coisas (e algumas que mais ninguém consegue) mas sabe perfeitamente quais são as coisas que não consegue. As lágrimas de Cristiano Ronaldo venceram: eram grandes e sentidas de mais para o próprio Cristiano Ronaldo acabar com elas.
O português que marcou o golo que fez Portugal vencedor do Euro 2016 esteve anteontem no Jornal da Noite da SIC. Explicou porque é que, mal marcou, correu à desfilada, afastando os camaradas que queriam submergi-lo no triunfo, até se afundar nos braços de um dos técnicos, junto ao banco. Queria ir, disse, festejar com quem estava ali, no lugar onde tinha passado grande parte do campeonato - o de suplente.
Era uma das minhas curiosidades desde domingo - como o porquê que, saiba eu, Quaresma ainda não disse sobre ter agarrado assim na cabeça do francês, mais o de ser aquela música dos Xutos o talismã da seleção. São perguntas fáceis. Há outras muito mais difíceis. A primeira é a que me surge ao ver na TV este Éder tão negro herói de um país onde todos os dias os negros, claros ou escuros, ouvem "vai para a tua terra"; um país que nas TV e jornais e em todos os lugares de representação - à exceção dos de atleta - devolve aos portugueses negros a evidência de uma cegueira.
Colour blind é a expressão usada em inglês para a feliz capacidade de ver pessoas, não a sua cor. A nossa capacidade como país é oposta: não vemos a invisibilidade dos portugueses negros. Tão cegos somos que, quando Van Dunem tomou posse, houve quem tivesse considerado "racista" o júbilo e a comoção dos que sublinharam ser a primeira vez que temos alguém negro no governo. Oh, é contraditório, dirão, querer afirmar a igualdade sublinhando a diferença. Mas não houve nenhuma luta pela igualdade que não tenha passado por aí. Nenhuma que não faça a pergunta que nesta semana vi num vídeo de uma palestra nos EUA, na qual uma mulher (branca) pergunta a uma plateia branca quantas daquelas pessoas gostariam de ser tratadas como os negros. Os assistentes entreolham-se, embaraçados. E ela conclui: "Ninguém? Quer dizer que sabem que há uma diferença de tratamento e que não a querem para vocês. Mas admitem-na para os outros."
No mesmo dia da entrevista de Éder, o The New York Times noticiava um inquérito, efetuado após o homicídio de cinco polícias brancos em Dallas (durante uma manifestação do movimento Black Lives Matter, de protesto contra homicídios de negros por polícias), no qual 69% dos americanos admitem que as relações raciais são geralmente más e estão a ficar piores. 48 anos após a morte de Luther King, quando chega ao fim o segundo mandato do primeiro presidente negro, num país onde há juízes negros, pivôs negros, jornalistas negros, senadores negros - e décadas de discriminação positiva na administração pública -, as coisas estão assim.
Podemos olhar para isso e achar que é um problema dos EUA. Ou pensar sobre e concluir que tem de ser também um problema - um problema que nos recusamos a enfrentar, até no facto de não sabermos, por bem intencionado mas perverso impedimento constitucional, quantos portugueses negros há - neste país onde os negros são uma espécie de suplentes, no banco a ver o jogo. À espera de uma oportunidade. Até quando?
Sara Moreira sagrou-se hoje campeã europeia da meia-maratona;🔝 - Patrícia Mamona, campeã da Europa em triplo salto;🔝 - Rui Costa foi segundo lugar na 9ª etapa da Volta à França;🔝 - Jéssica Augusto foi bronze na meia-maratona;🔝 - Selecção portuguesa de futebol Campeã da Europa.🔝
Não se esqueçam, são todos Portugueses. São/Somos todos Portugal. 😉
Os galeses foram valentes. Deram tudo. Mas não basta
Que Portugal só sabia empatar. Tome lá 2 golos em 3 minutos, um para abrir o apetite, outro para encher a barriga.
Que Cristiano Ronaldo não estava a marcar golos. Tome lá 1 de cabeça, se fizer favor e outro, para variar, pelo chão, para o Nani.
Disseram mal do Fernando Santos. Ele foi explicando como era e como iria ser. E assim foi.
Disseram mal da selecção, que estava a jogar mal. Ou que estava a jogar assim-assim mas não marcava golos e que não jogava para ganhar. Ora tome lá dois golinhos bem servidos aos minutos 50 e 53 para ficarem 40 minutos para o sofrimento de que não abdicamos.
Os galeses foram valentes. Deram tudo. Mas não basta. Bale à parte, não são excelentes futebolistas. Que me desculpem: é mesmo uma questão de talento.
Os galeses mostraram ter um grande espírito de equipa. Parabéns. Estiveram sempre muito unidos. Suponho que tenha sido bonito de se ver, caso fôssemos galeses. Mas, como não somos, não foi. O maior elogio que podemos fazer é dizer-vos que houve momentos em que nos meteram medo. Sobretudo antes do jogo começar.
Foi uma vitória da selecção portuguesa e do treinador português contra Portugal e os portugueses. Nós os portugueses pensávamos que Portugal ia ficar mal neste Euro 2016 mas queríamos que ficasse bem. Esperávamos o pior mas exigíamos o que nos parecia impossível. É um raio de uma atitude, diga-se já.
Já ouço o que nos amaldiçoam por ter perdido na final contra a França ou a Alemanha. Ó que porra: tenham calma.
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