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Pontos de Vista

Porque tudo na vida tem um ponto de vista

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29
Mai16

Pablo Neruda no Facebook - Amo-te Sem Saber Como

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amo-te.jpg

 

 

Amo-te Sem Saber Como

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"

 

18
Mar16

Pablo Neruda - O Meu Primeiro Poema

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O Meu Primeiro Poema

Têm-me perguntado muitas vezes quando escrevi o primeiro poema, quando nasceu a minha poesia. Tentarei recordá-lo. Muito para trás, na minha infância, mal sabendo ainda escrever, senti uma vez uma intensa comoção e rabisquei umas quantas palavras semi-rimadas, mas estranhas para mim, diferentes da linguagem quotidiana. Passei-as a limpo num papel, dominado por uma ansiedade profunda, um sentimento até então desconhecido, misto de angústia e de tristeza. Era um poema dedicado à minha mãe, ou seja, àquela que conheci como tal, a angélica madrasta cuja sombra suave me protegeu toda a infância. Completamente incapaz de julgar a minha primeira produção, levei-a aos meus pais. Eles estavam na sala de jantar, afundados numa daquelas conversas em voz baixa que dividem mais que um rio o mundo das crianças e o dos adultos. Estendi-lhes o papel com as linhas, tremente ainda da primeira visita da inspiração. O meu pai, distraidamente, tomou-o nas mãos, leu-o distraidamente, devolveu-mo distraidamente, dizendo-me:
— Donde o copiaste?

E continuou a falar em voz baixa com a minha mãe dos seus importantes e remotos assuntos. Julgo recordar que nasceu assim o meu primeiro poema e que assim tive a primeira amostra distraída de crítica literária.
Entretanto, progredia no mundo do conhecimento, no desordenado rio dos livros, como um navegante solitário. A minha avidez de leitura não se saciava, nem de dia nem de noite. Na costa, no pequeno Puerto Saavedra, topei uma biblioteca municipal e um velho poeta, Augusto Winter, que se admirava com a minha voracidade literária. «Já os leu?», inquiria, passando-me um novo Vargas Vila, um Ibsen, um Rocambole. Como uma avestruz, eu engolia tudo sem discriminações.

Pablo Neruda, in "Confesso que Vivi"
Retirado de Citador
 
12
Fev16

Pablo Neruda no Facebook - Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente

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amo-te.jpg

 

Amo-te Sem Saber Como

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"

 

06
Jan16

Pablo Neruda - A Mulher dos Vinte Poemas

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A Mulher dos Vinte Poemas

Perguntam-me sempre quem é a mulher dos «Vinte Poemas». É difícil responder. As duas ou três que se entrelaçam nesta melancólica e ardente poesia correspondem, digamos, a Marisol e Marisombra. Marisol é o idílio da província encantada, com imensas estrelas nocturnas e olhos escuros como o céu molhado de Temuco. É ela que figura, com a sua alegria e a sua vivaz beleza, em quase todas as páginas, rodeada pelas águas do porto e pela meia-lua sobre as montanhas. Marisombra é a estudante da capital. Boina parda, olhos dulcíssimos, o constante aroma a madressilva do errante amor estudantil, o sossego físico dos apaixonados encontros nos esconderijos da urbe.

Pablo Neruda, in "Confesso que Vivi"
 
Retirado de Citador
 

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