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Pontos de Vista

Porque tudo na vida tem um ponto de vista

Pontos de Vista

Porque tudo na vida tem um ponto de vista

21
Jul16

Ricardo Araújo Pereira - Quando o ministério não tem juízo, o corpo docente é que paga

olhar para o mundo

Ricardo Araújo Pereira

 

Quando o ministério não tem juízo, o corpo docente é que paga

 

O professor A é do Algarve e vai dar aulas para Trás-os-Montes. O professor B é de Lisboa e vai dar aulas para Braga. Após consultarem a internet, descobrem no mesmo dia que foram colocados por engano. Sabendo que ambos tomam o comboio das 8h20, qual chega primeiro ao centro de emprego?

 

Eu tinha 14 anos e considerava que se estava a perder demasiado tempo com a influência da continentalidade nas amplitudes térmicas. Portanto, fiz o que tinha a fazer.
 

Fui à horta que havia por trás dos campos de futebol e apanhei um gafanhoto. Antes de o professor de geografia chegar, coloquei o gafanhoto debaixo da sua secretária.

 

Não resultou. Assim que o professor se sentou, o gafanhoto saltou para a janela e saiu da sala. O professor nem chegou a vê-lo. E passou mais 50 minutos a falar impunemente sobre o facto de as zonas costeiras serem mais amenas que as áreas do interior.

 

Aos 14 anos ninguém sabe imaginar estratagemas que transtornem verdadeiramente a vida dos professores.

 

Aos 62, Nuno Crato, o ministro da Educação, tem a maturidade que me faltava para inventar as melhores partidas.

 

Primeiro, colocou professores de Coimbra, por exemplo, em Faro. Esperou que alugassem casa, que instalassem a família, que adaptassem a vida à nova realidade.

 

Depois, anunciou que tinha havido um engano e que a colocação havia sido anulada. Isto é que é uma partida. Não sei se o ministro aceita sugestões, mas talvez fosse engraçado que, quando o professor se dirigisse ao ministério para se informar sobre as suas alternativas, lhe entregassem um envelope com um gafanhoto lá dentro.

 

Como sempre, os professores não têm sentido de humor suficiente para entrar na brincadeira. Levam a mal, protestam, queixam-se. Resistem a ver esta balbúrdia como uma oportunidade. Eu, sendo professor, aproveitava o estilo de vida que o ministério proporciona e adquiria imediatamente 20 ovelhas. O nomadismo é ideal para a pastorícia, e as constantes mudanças na colocação contribuiriam para que eu ficasse com um rebanho forte e lucrativo. Quanto menos aulas desse, mais tempo teria para vender lã, queijo e borregos.

 

Há quem oferença o corpo à ciência. Neste momento, os professores podem oferecer o corpo à educação, na medida em que as suas vidas parecem um daqueles problemas matemáticos: "o professor A é do Algarve e vai dar aulas para Trás-os-Montes. O professor B é de Lisboa e vai dar aulas para Braga. Após consultarem a internet, descobrem no mesmo dia que foram colocados por engano. Sabendo que ambos tomam o comboio das 8h20, qual chega primeiro ao centro de emprego?".

 

Nem todos temos a honra de poder dar um contributo tão grande para o bem da Humanidade. Os professores têm e ainda reclamam.

 

Retirado da Visão

03
Jul15

Valter Hugo Mãe - Os professores

olhar para o mundo

Valter Hugo Mãe, os professores

 

Jornal de Letras, 19 Set 2012

 

Os professores

 

       Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade. A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito

 

... Ver mais de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria de mundo em que o mundo se tem vindo a tornar. Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise.

 

Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe. Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesse crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo. Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes. Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se estivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível. 

 

Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos. É como pedir que abdiquem de melhorar os nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias. Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto. As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada.

 

Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se

 

Valter Hugo Mãe

16
Abr15

A educação no Facebook - Não é preciso ser um professor especial para ensinar um aluno com autismo

olhar para o mundo

especial2.jpg

 

 

Não é preciso ser um professor especial para ensinar um aluno com autismo

Ensinar um aluno com autismo vai fazer de si um professor especial

 

 

 

TENHO UM ALUNO COM AUTISMO. O QUE FAZER?

Quando um docente tem a experiência de trabalhar com alunos com perturbações do espetro do autismo (PEA) normalmente adquire mais noções acerca do desenvolvimento infanto-juvenil em geral, convive com as características únicas desta perturbação e também passa a dominar um conjunto de técnicas e estratégias de intervenção que podem ser úteis em diferentes contextos.
No site do CADIn pode encontrar mais informação sobre estas estratégias:


http://www.cadin.net/autismo-estrategias-escola/

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