a minha Europa não deixaria pessoas morrer de frio
milhares de refugiados estão em risco de morrer de frio nas ilhas gregas. Homens, mulheres e crianças que tentam sobreviver às temperaturas negativas do inverno europeu em tendas cobertas de neve – é inaceitável! Assine agora para que sejam transferidos e recebam acolhimento digno: http://amn.st/61848PLU4#EuAcolho
que diferença há para os mortos, os órfãos e os refugiados que a louca destruição tenha o nome de totalitarismo ou o sagrado nome da liberdade e a democracia?
que diferencia hay para los muertos, los huérfanos y los refugiados que la loca destrucción venga bajo el nombre del totalitarismo o el sagrado nombre de la libertad y la democracia?
...porque é urgente SER HUMANO, ...porque é urgente acolher quem foge da guerra, ...porque a solidariedade não tem fronteiras, cor ou religião, as associações Meninos do Mundo e Vida Activa organizaram uma vigília que irá decorrer dia 23 de de Outubro de 2015, em frente à Assembleia da República, pelos refugiados, a partir das 19h. Apareça! Juntos faremos o Mundo girar!
Os refugiados precisam de protecção, não de barreiras
Amnistia Internacional
Enquanto os líderes europeus discutem, milhares de refugiados permanecem em terra de ninguém. Vítimas de maus-tratos, tentam sobreviver com pouco ou nenhum acesso a alimentação, água potável ou casas de banho.
Com a chegada do Outono, aumenta a urgência. Temos poucos dias para exigir protecção. ASSINEM. PARTILHEM! >
Eu existo. Tenho uma identidade e existo. Para ti não tenho nome, sou apenas uma estatística, um número. Venho da Síria, do Iraque, da Palestina, da Somália ou do Sudão. Pouca diferença faz de onde venho porque sou visto como uma ameaça que vem de longe.
Fui obrigado a deixar o meu país. Fujo da guerra, da opressão e da miséria, mas não procuro uma vida melhor. Procuro vida. Porque, de onde venho, agora só existe morte. Tu fazes questão de me lembrar o quão indesejado sou, mas prefiro o teu desdém e a incerteza do que o futuro me reserva à morte certa. Fugir é a minha única alternativa. Seja escondido num camião durante dias a fio ou num bote sobrelotado em pleno Mediterrâneo. Talvez o meu erro seja ter nascido no lugar errado na hora errada.
Eu percebo os teus insultos mesmo sem falar a tua língua. Vês-me como terrorista mas quem perdeu tudo por causa do terror fui eu. Vi-os cometer atrocidades em nome duma religião que não é a minha. Quem os armou? Quem os treinou? Não fui eu. Ou pensas que todos os muçulmanos são terroristas? E se eu não for muçulmano? Já me aceitas? E os atentados extremistas perpetrados por cidadãos nascidos e criados na Europa? E os europeus que engrossam as fileiras do Estado Islâmico?
Aqui sou recebido com gás lacrimogéneo e balas de borracha mas a alternativa seria ficar no meu país e ser assassinado sem me poder defender. Só estou vivo porque não estou morto.
Tens medo que te venha roubar o teu emprego? Mas se te disser que quero trabalhar e cumprir as tuas leis, já me aceitas? Prefiro que admitas a tua xenofobia, a tua intolerância e deixes de justificar o teu medo com teorias da conspiração. Dizem que venho roubar as casas que seriam para os vossos sem-abrigo. O que é que já foi feito por eles? Ou só se lembram deles quando é conveniente? Não te acuso, pergunto.
Talvez eu tenha mais medo de ti do que tu de mim. Fujo duma guerra para vir encontrar outra. Essa guerra de propaganda e de desinformação, onde a opinião pública é manipulada com notícias falsas nos jornais e mentiras partilhadas nas redes sociais. A minha opinião? Não tenho. Tenho fome e tenho medo. Imagina a tua vida virar um pesadelo do dia para a noite. Imagina a tua casa ser bombardeada enquanto dormes. Imagina a tua família ser assassinada à tua frente e nada poderes fazer. Imagina tudo o que sempre conheceste feito em escombros. Imagina os dias sem comida, sem água potável, sem electricidade, sem nada. Imagina a vida dos teus filhos em perigo. Que farias tu?
Não sou um refugiado, sou um ser humano. Espero que nunca precises da compaixão alheia para sobreviveres. Hoje sou eu, amanhã podes ser tu.
Como se estivesse morto: ( testemunho de Abdullah Kurdi, pai de Aylan Kurdi )
"Deixámos Damasco pouco depois do início da guerra na Síria. Vivíamos no bairro curdo de Rukn al-Din e eu trabalhava como barbeiro.
A situação na cidade tornou cada mais perigosa. Decidimos partir para Kobane onde a minha mulher e eu trabalhávamos na agricultura. Tentei a minha sorte em Istambul numa fábrica têxtil. Doze horas por dia eram passadas na fábrica e à noite dormia numa cave que o dono da fábrica fechava do lado de fora. O salário enviava-o para Kobane para a minha a família. Foi assim durante três anos até o Estado Islâmico ter tomado Kobane em 2014. Com Rehan, a minha mulher, Galib e Aylan, os meus filhos, e milhares de outros habitantes fugimos. Pela primeira vez a minha mulher disse: "temos de abandonar a Síria", antes recusara sempre.
Viemos para Istambul onde procurei um trabalho na construção civil. Carregava 200 sacos de cimento escadas acima, onze horas por dia. O nosso quarto custava 400 liras turcas por mês. Durante 5 meses a minha irmã, que vive há 25 anos no Canadá, pagou-nos a renda. Pedimos asilo ao Canadá, mas este foi-nos recusado, escolhemos então ir para a Alemanha onde o meu irmão vive, em Heidelberg, num centro de refugiados. Tentamos ir por terra, mas a polícia turca deteve-nos na fronteira com a Bulgária. A única opção que nos estava era o mar. A minha irmã deu-me os 4 mil euros que entreguei aos traficantes turcos e sírios. No nosso barco a motor iam 13 pessoas e parecia ser seguro. O capitão disse: "a viagem dura apenas dez minutos". Podíamos ver Kos. A água estava calma, mas poucos minutos depois tudo se alterou. Veio uma onda e virou o barco, era de noite e não via a minha mulher e os meus filhos. Mas ouvi a minha mulher, as suas últimas palavras foram: "Abu Galib, pai de Galib, cuida das crianças". Não as consegui segurar. Agarrei-me ao barco. Um dos que iam comigo conseguiu alcançar a costa e chamou a polícia. Passei a noite numa cela e no dia seguinte pediram-me para identificar a minha família. A minha amada mulher Rehan, Aylan, o menino que sorria sempre, e Galib que nunca parava quieto.
Enterrei a minha família em Kobane e vivo na casa destruída do meu sogro. Não há infra-estrutura, há pó por todo o lado, os corpos dos mortos continuam debaixo das ruínas. O cheiro é insuportável e os insectos picam-nos à noite. Não há medicamentos, não há leite para as crianças, não há quase água.
Nunca mais deixarei Kobane, quero estar perto da minha família, mesmo que a única coisa que tenha deles seja roupa.
Sempre ouvi dizer que “quem tem cu, tem medo”. Verifica-se, tenho os dois. E como não ter medo deles?
Eles são obcecados nas suas convicções. Proferem dogmas assertivos, que todo o mundo tem de seguir, com a facilidade com que eu escrevo uma lista de compras. São intransponíveis nas suas crenças e não desviam o pensamento um único grau para nenhum lado.
Defendem o seu território com mais garra do que defendem a própria mãe das mãos de um bandido. A pátria é sagrada e ninguém e qualquer estranho que pise aquele solo não está a visitar, está a invadir.
Não lhes digam nada que choque com a cultura deles, não ousem apontar algo errado no seu comportamento. São perigosos, violentos, sem escrúpulos. Quem se atravessar, cai.
Estão dispostos a tudo pelas suas crenças. Destroem o resto do mundo se assim for preciso, para que ensinem a última lição a quem se tem recusado a aprender.
Como não ter medo desta gente? Como não ter medo de quem, não só não respeita, como está disposto a destruir outros credos, cores de pele, nacionalidades diferentes?
Sim, é preciso ter medo. Os racistas e xenófobos são demasiado perigosos para o mundo, autênticos terroristas.
O medo do que é diferente faz com que o ódio que lhes está latente venha ao de cima rapidamente, fazendo com que à mesma velocidade caia a máscara de patriotismo bacoco. Eles também têm medo. Medo de aceitar que a verdade do mundo não é necessariamente a sua. Medo do desconhecido, medo de sair da sua zona de conforto, medo de aceitar que são tão nada como todos os outros do mundo. E que nada seremos para sempre.
Quando nos deixamos levar pelo medo irracional, tornamo-nos animais acossados, prontos a atacar seja nas redes sociais ou pelas ruas e é isso a que temos assistido nos últimos dias.
E quanto mais vejo isto, mais vergonha tenho de Portugal. O orgulho de sermos um povo de descobridores aventureiros ou corajosos emigrantes que foram e vão para o mundo todo, cai por terra hipocritamente com esta xenofobia que se tem visto.
Se calhar, sou eu que estou mal. Se calhar, todos os patriotas que se têm manifestado vão todas as noites distribuir alimentos pelos nossos sem-abrigo, compram livros e filmes de autores portugueses e nunca sequer tocaram num kebab (antes passar fome!). Claro que nunca foram a uma loja de indianos comprar cerveja, nem aos chineses comprar pilhas. Nike? Adidas? Só usam Sanjo. Viajar? Vá para fora cá dentro. Aliás, o ideal era vir um terramoto que separasse fisicamente o nosso país da Europa e o isolamento deixaria de ser apenas mental. Mas assim é que vamos bem: “orgulhosamente sós”, como dizia esse orgulho nacional.
Aqueles que morrem asfixiados em camiões ou afogados no Mediterrâneo — eis os verdadeiros pobres.
Na semana passada, junto ao quiosque onde costumo comprar os jornais, uma senhora de cabelos brancos, muito Avenida de Roma, comentava a questão dos refugiados. Colocada perante a possibilidade de Portugal vir a assumir um papel de maior relevo no seu acolhimento, e investir na construção de um centro para refugiados no Algarve, a senhora proclamou: "Espero que não seja junto ao sítio onde passo férias. Já por lá há tanta gente que nem consigo ir ao supermercado."
Isto foi dito poucos dias depois de 71 refugiados terem morrido sufocados dentro de um camião frigorífico no meio da Áustria. Aquela senhora é certamente encantadora para os seus netinhos e, quem sabe, para os seus animais domésticos. Infelizmente, quando colocada perante o terrível dilema de ter de escolher entre o aumento das filas do supermercado que frequenta durante 15 dias a cada Verão e o acolhimento de gente desconhecida fugida da guerra, ela opta pela pacatez do supermercado. Árabes, como se sabe, são todos fundamentalistas, e persas, só se forem gatos. É pena os refugiados sírios ou líbios não ladrarem ou miarem em vez de falarem línguas incompreensíveis, porque aí teriam um partido português a defendê-los e uma longa lista de abaixo-assinados prontos a reclamar pelos seus direitos. Se eu fosse refugiado e quisesse chamar a atenção, acho que ladrava em vez de falar, até porque o que não falta nas Avenidas Novas, onde toda esta cena se passou, são clínicas veterinárias impecáveis, algumas das quais abertas 24 horas por dia.
Digam-me: em que momento é que deixámos de nos preocupar? Em que momento é que nos tornámos indiferentes ao sofrimento de centenas de milhares de pessoas, muitas das quais mulheres e crianças que perderam tudo e que buscam salvação na Europa, ao mesmo tempo que pintamos com cores de tragédia planetária a sobretaxa do IRS ou os números do desemprego? Aqueles que morrem asfixiados em camiões ou afogados no Mediterrâneo — eis os verdadeiros pobres. Mas a nossa piedade em relação a eles é ínfima, e é extraordinário que os estrondosos gritos de "parem com a austeridade" se transformem num murmúrio quase inaudível quanto se trata de pedir para salvar as vidas de quem nada tem.
Faço minhas as palavras que Rui Tavares deixou ontem escritasneste espaço: é óbvio que não os podemos aceitar a todos, mas aceitemos ao menos os que pudermos, para termos autoridade moral para exigir que outros países ajam como nós. Nunca conseguiremos resolver o drama dos refugiados, e pobres sempre existirão no mundo, com certeza. Mas, durante a Segunda Guerra Mundial, Oskar Schindler ou Aristides Sousa Mendes também não salvaram todos os judeus — salvaram os que puderam. Salvaram os que conseguiram. Infelizmente, a Europa, neste momento, nem sequer está a tentar. A Europa, farol do mundo, propulsora da "aldeia global", limita-se a erguer muros atrás de muros. Foi nisto que nos tornámos?
Porque se foi, tenhamos ao menos o pudor de parar de gritar impropérios contra a Alemanha imperialista ou de desenhar bigodinhos à Hitler na cara de Angela Merkel. Porque é Merkel, a terrível Merkel, que ainda assim procura fazer alguma coisa pelos refugiados, numa era de renovada xenofobia. Não quero ser ingénuo, nem escamotear os problemas que o acolhimento acarreta. Mas a pergunta "que fizeste ao teu irmão?" é uma das mais belas e mais antigas da nossa cultura. Não deixemos que a indiferença chegue ao nível da fila do supermercado.
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