03
Dez15
Henry Miller - Se Pudesses Estar Comigo Vinte e Quatro horas do Dia
olhar para o mundo
Se Pudesses Estar Comigo Vinte e Quatro horas do Dia
Se pudesses estar comigo durante as vinte e quatro horas do dia, observar cada gesto meu, dormir comigo, comer comigo, trabalhar comigo, tudo isto não poderia ter lugar. Quando me vejo afastado de ti, penso em ti constantemente e isso dá cor a tudo o que eu diga ou faça. Se soubesses o quão fiel te sou! Não apenas fisicamente, mas mentalmente, moralmente, espiritualmente. Aqui não há qualquer tentação para mim, absolutamente nenhuma. Estou imune a Nova Iorque, aos meus velhos amigos, ao passado, a tudo. Pela primeira vez na minha vida, estou completamente centrado em outro ser... Em ti. Sinto-me capaz de dar tudo, sem ter medo de ficar exaurido ou de me ver perdido. Quando ontem escrevi no meu artigo que «se eu nunca tivesse ido para a Europa...», não era a Europa que tinha em mente, mas sim tu.
Mas não posso dizer isso ao mundo num artigo. Tu és a Europa. Pegaste em mim, um homem despedaçado, e tornaste-me completo. E não hei-de desintegrar-me — não existe o menor perigo disso. Mas agora vejo-me mais sensível, mais receptivo a qualquer sinal de perigo. Se te persigo loucamente, se te imploro para ouvires, se fico à tua porta e espero por ti, não é porque esteja a tentar humilhar-me. Não há qualquer humilhação para mim nesta luta para te manter. Trata-se apenas da prova de que me encontro intensamente desperto, intensamente alerta, sôfrego, profundamente sôfrego e desesperado por te fazer perceber que o meu grande amor por ti é uma coisa terrivelmente real e bela.
Outrora, eu teria restituído à mulher qualquer sofrimento que eu tivesse de suportar. Mas agora sei que este sofrimento é o resultado do meu próprio comportamento. Sei que, no momento em que algo acontece, algo injusto, isso deve ser por culpa minha. Não é culpa aquilo que sinto, mas uma profunda humildade perante o teu amor. Não duvido de ti, Anais, de qualquer maneira que seja. Deste-me todas as provas que uma mulher pode dar a um homem. Sou eu quem tem de aprender a maneira como aceitar e guardar este amor. Cometi tantos erros estúpidos... Sem dúvida que hei-de cometer mais erros estúpidos. Mas não estou a regredir. Cada novo dia parece levar-me a um nível mais elevado. Ergueste-me até às alturas. Mantém-me lá, imploro-te.
Pensei em dizer-te isto ao telefone, mas acabo por ficar sempre tão perturbado... «Anais, não sou capaz de andar pela rua mergulhado em aflição. Não está certo. Tenho tanto para fazer e não quero destruir-me, nem uma pequena parte de mim. Tudo o que tenho é precioso e tenho tentado manter isso, de modo a poder oferecer-to».
Henry Miller, in "Carta de Henry Miller a Anais Nin, 1935"
Mas não posso dizer isso ao mundo num artigo. Tu és a Europa. Pegaste em mim, um homem despedaçado, e tornaste-me completo. E não hei-de desintegrar-me — não existe o menor perigo disso. Mas agora vejo-me mais sensível, mais receptivo a qualquer sinal de perigo. Se te persigo loucamente, se te imploro para ouvires, se fico à tua porta e espero por ti, não é porque esteja a tentar humilhar-me. Não há qualquer humilhação para mim nesta luta para te manter. Trata-se apenas da prova de que me encontro intensamente desperto, intensamente alerta, sôfrego, profundamente sôfrego e desesperado por te fazer perceber que o meu grande amor por ti é uma coisa terrivelmente real e bela.
Outrora, eu teria restituído à mulher qualquer sofrimento que eu tivesse de suportar. Mas agora sei que este sofrimento é o resultado do meu próprio comportamento. Sei que, no momento em que algo acontece, algo injusto, isso deve ser por culpa minha. Não é culpa aquilo que sinto, mas uma profunda humildade perante o teu amor. Não duvido de ti, Anais, de qualquer maneira que seja. Deste-me todas as provas que uma mulher pode dar a um homem. Sou eu quem tem de aprender a maneira como aceitar e guardar este amor. Cometi tantos erros estúpidos... Sem dúvida que hei-de cometer mais erros estúpidos. Mas não estou a regredir. Cada novo dia parece levar-me a um nível mais elevado. Ergueste-me até às alturas. Mantém-me lá, imploro-te.
Pensei em dizer-te isto ao telefone, mas acabo por ficar sempre tão perturbado... «Anais, não sou capaz de andar pela rua mergulhado em aflição. Não está certo. Tenho tanto para fazer e não quero destruir-me, nem uma pequena parte de mim. Tudo o que tenho é precioso e tenho tentado manter isso, de modo a poder oferecer-to».
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Henry Miller, in "Carta de Henry Miller a Anais Nin, 1935"
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